Aproveitando que 9 de agosto marca o Dia Internacional dos povos originários, que tal conhecer um pouco mais sobre literatura indígena? Continue no texto para conferir autores e obras que mostram culturas e existências que vão muito além de clichês e da tradução cultural fantasiosa produzida por colonizadores.
Literatura indígena: muito além de Iracema
Vamos fazer um teste? Pare a leitura deste texto por 2 minutos e monte (mentalmente ou não) uma lista de obras que tenham povos originários na lista de personagens. Pronto? Aposto que Iracema, Macunaíma e outras obras de autores canônicos foram lembrados por você! Mas existe algum autor ou autora indígena na sua listagem? Bom, talvez seja exatamente nesse apagamento que more o problema.
Apesar de obras incontestavelmente importantes, a retratação de diversos povos através de um olhar colonizador foi imortalizada em livros essenciais da nossa literatura e ajudam a perpetuar uma série de estigmas e preconceitos.
Esses, além de achatarem saberes e existências das mais diversas, ainda divulgam falácias e desconhecimentos que só nos afastam de brasileiras e brasileiros que, por diferenças culturais, muitas vezes são vistos como “outros”, como “selvagens”.
Começando do princípio: a importância do nome
Como a pesquisadora Julie Dorrico coloca logo no início de seu TED sobre literatura indígena brasileira, não existem índios. O que existem são povos com espiritualidades, culturas, tradições e línguas próprias. São vários grupos de pessoas que já habitavam essas terras quando os invasores europeus ancoraram seus navios. Nosso país é, então, terra indígena.
Assim, literatura indígena ou mesmo literatura de povos originários são os termos corretos para especificar obras, sejam elas ficcionais ou não, produzidas por descendentes daquelas e daqueles que habitavam esse espaço antes mesmo de ele receber o nome “Brasil”.
Ler outras vozes
Muitos estigmas sempre rondaram a cultura, a existência e a retratação de povos indígenas pela nossa literatura. Buscar ressignificar esses lugares comuns, ouvir e ler vozes mais diversas e entender um pouco melhor as múltiplas histórias que formam nosso país são os primeiros passos para o (re)conhecimento e para perceber que a literatura vai muito além de uma lista seleta e inalcançável.
Para todos os gostos
Outra questão importante de se destacar é que, quando falamos sobre literatura indígena, literatura negra ou mesmo daquela produzida por mulheres, estamos apontando para obras de diversos gêneros e que atendem aos mais variados gostos.
Assim, não existem desculpas para não se aventurar por livros escritos por autores de realidades para além da vivida por homens, heterossexuais e brancos. Romance, aventuras policiais, teoria política, poesia, literatura infantil, quadrinhos… são muitas as opções de livros e personagens.
Para começar a ler obras produzidas por indígenas
E, apesar da falta de incentivo e reconhecimento, a literatura indígena está disponível para entrar na estante de leitores curiosos. Para te ajudar a descobrir por onde começar, separamos uma lista com algumas obras que abrangem os mais diversos gostos. Confira!
1. A terra dos mil povos: História Indígena do Brasil Contada por um índio, de Kaká Werá Jecupé
Livro de não ficção, esta obra de Kaká é um verdadeiro levantamento de povos indígenas brasileiros. O próprio conceito de “índio” é repensado nas páginas do livro que aponta as características padronizadoras da terminologia, bem como o caráter atual de luta pela existência e demarcação de terras.
2. A queda do céu, de Davi Kopenawa e Bruce Albert
Coletânea de relatos de Davi Kopenawa transcritos por Bruce Albert, A queda do céu é uma obra de fôlego. Com mais de 800 páginas, o livro é visto como uma “pele de imagens” que explica conceitos do xamanismo, da floresta como céu caído, passando também por fases da vida de Kopenawa retratadas por diversas fotografias.
3. Contos indígenas brasileiros, de Daniel Munduruku
Um dos maiores nomes da literatura indígena brasileira, Daniel Munduruku é autor de mais de 50 livros publicados. Em “Contos indígenas brasileiros” temos contato com oito histórias pertencentes a povos diferentes, trazendo uma miscelânea de mitos e saberes.
4. Eu sou macuxi e outras histórias, de Julie Dorrico
Doutoranda em teoria da literatura e descendente dos Macuxis, Julie Dorrico narra no livro a jornada de resgate da sua ancestralidade. Livro de poemas sobre a memória, a obra, apesar de autobiográfica, é rica em palavras e cosmologias que retratam a sobrevivência e adaptação de diversos povos originários.
5. Ideias para adiar o fim do mundo, de Ailton Krenak
Um dos nomes mais importantes da literatura indígena moderna, Ailton Krenak é figura importante por reivindicar direitos para povos indígenas na Constituição de 88, protagonizando umas das cenas de protesto mais icônicas da nossa história.
“Ideias para adiar o fim do mundo” é a transcrição de duas palestras dadas em Portugal entre 2017 e 2019 que pensam e incitam o questionamento de leitores e ouvintes enquanto seres humanos que permitem ser desumanizados, tendo seu olhar retirado da natureza.
6. Nós: Uma antologia de literatura indígena, de vários autores
Antologia voltada para o público infantil, reúne 12 autores para retratar através das palavras a diversidade cultural entre povos indígenas. Assim, de forma simples e acessível, é possível que leitores de todas as idades entendam um pouco mais sobre as formas que cada um desses povos constrói suas lendas originárias e, até mesmo, a importância diferente que dão para alguns elementos da natureza.
Ao final de cada conto, é possível conhecer um pouco melhor sobre a cultura ali apresentada através de um texto curto com informações importantes e um glossário.
Conhece outros escritores e obras indígenas que deveriam ser mais conhecidos? Indique para a gente nos comentários!
Atualizado em 2024-11-22 / Links afiliados (Affiliate links) / Imagens de Amazon Product Advertising API