Situado no sudeste do país, o estado de Minas Gerais é notório por remeter à Corrida do Ouro, durante o século 18, período que acabou tornando cidades coloniais um dos focos de turistas do mundo inteiro. No entanto, a reputação da região pode ser elevada ainda mais graças aos grandes escritores mineiros que, vindos de lá para grandes centros, como Rio de Janeiro e São Paulo, ou que não arredaram o pé do estado de origem, encantaram ou seguem encantando diversos leitores com seus versos.
Neste texto, você vai poder conhecer um pouco sobre a história de 11 deles, entre homens e mulheres, além de receber indicações de obras de cada um. Boa leitura!
Obs: a lista foi organizada a partir da data de nascimento do autor ou autora.
1. Alphonsus de Guimaraens (1870-1921)
“Quando Ismália enlouqueceu, pôs-se na torre a sonhar, viu uma lua no céu, viu outra lua no mar…”
Ismália
Possivelmente você já leu os versos acima em algum livro de português durante o ensino médio. Caso contrário, talvez tenha escutado a atriz Fernanda Montenegro recitando-os na canção do rapper Emicida, cujo nome é o mesmo do soneto ao qual eles pertencem: Ismália!
Acontece que eles foram escritos pelo simbolista mineiro Alphonsus de Guimaraens — pseudônimo para Afonso Henrique da Costa Guimarães.
O findar da vida, os amores improváveis e impossíveis, a solidão, a espiritualidade e outras temáticas e misticidades que envolvem a existência humana são marcantes nos escritos do ouropretense.
Destacam-se obras como Câmara Ardente (1899) e o livro de prosa Mendigos (1920).
2. Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
Outro escritor notório a nível não só nacional, mas mundial, é Carlos Drummond de Andrade — figura bem presente durante as aulas de literatura.
Nascido na pequena cidade mineira de Itabira, local marcado pela mineração de ferro, sendo o berço da empresa Vale, tanto ela quanto o estado se fariam extremamente presentes nos versos do poeta brasileiro que também escrevia contos e crônicas.
A ligação com a cidade onde passou a infância era tão intrínseca que, mesmo durante os anos em que morou no Rio de Janeiro, ela continuou viva em Drummond.
Dono de uma sensibilidade singular, ora emotiva, ora impiedosa, os escritos drummondianos são marcados por versos livres (sem métrica ou rima). Eles falam sobre o amor, a amizade, a vida cotidiana e incluem temáticas de relevância social — seja com doses de humor, paixão ou ironia, mas sempre com um ar existencialista. Abordar o próprio processo de escrita da poesia também era uma de suas temáticas.
“Alguns anos vivi em Itabira.
Confidência do Itabirano
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil;
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa…
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!”
3. Guimarães Rosa (1908-1967)
João Guimarães Rosa, ou simplesmente Guimarães Rosa, também nasceu em Minas Gerais e, assim como seu contemporâneo Carlos Drummond de Andrade, encontrou no Rio de Janeiro um lugar para chamar de seu.
Diplomata, novelista, contista, romancista e — acredite se quiser! — médico, a produção desse mineiro é quase que completamente ambientada no sertão brasileiro, como é o caso de uma de suas obras mais marcantes: Grande Sertão: Veredas (1956).
“O correr da vida embrulha tudo,
Grande Sertão: Veredas
a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem”.
Lê-lo, sem dúvidas, é se afundar na magia do português, seus regionalismos e neologismos. Características perfeitamente incorporadas à erudição do escritor, que também não se detém em reinventar a língua.
4. Carolina Maria de Jesus (1914-1977)
A literatura de Minas Gerais não é marcada apenas por homens, mas também por mulheres fortes, como Carolina Maria de Jesus. O fato de ser negra e moradora da favela do Canindé, na Zona Norte de São Paulo, durante boa parte de sua vida foi o suplemento para tornar público o seu diário pessoal com o título de Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada (1960).
Traduzida em 14 línguas, a obra vendeu mais de um milhão de exemplares, sendo um dos livros brasileiros mais reconhecidos no exterior e retrata a vivência da escritora que nasceu na cidade mineira de Sacramento.
5. Fernando Sabino (1923-2004)
Diretamente da capital mineira, Belo Horizonte, Fernando Sabino é um dos nomes mais encontrados nas estantes das bibliotecas públicas, especialmente as escolares. Escritor, jornalista e editor, ele começou a escrever contos com apenas 12 anos.
Durante a década de 1940, ele chegou a cursar a Faculdade de Direito, em Minas Gerais, e ingressou no fantástico universo do jornalismo como redator da Folha de Minas.
No entanto, o primeiro livro de contos sairia no Rio de Janeiro, em 1941, com o título de Os Grilos Não Cantam Mais. Na cidade carioca, ela passaria a viver em 1944 — a mudança faria com que ele conhecesse Clarice Lispector, de quem se tornou grande amigo e, mais tarde, um correspondente fiel.
Uma de suas obras mais importantes é O Encontro Marcado, um romance de 1956 cujo protagonista enfrenta uma efetiva busca existencial na qual o leitor é carregado, enquanto ele discorre sobre a infância, o período escolar, as experiências sexuais, o primeiro namoro, a paixão pela natação (que também pertencia ao escritor), o casamento, etc.
6. Rubem Fonseca (1925-2020)
José Rubem Fonseca, infelizmente, nos deixou recentemente. No entanto, toda a vasta obra de um dos maiores contistas, romancistas, ensaístas e roteiristas brasileiros permanece.
Ganhador do Prêmio Camões em 2003, o mais prestigiado em língua portuguesa, Rubem Fonseca nasceu na cidade de Juiz de Fora, sendo filho de portugueses trasmontanos que emigraram para o Brasil.
Quando formou-se em Direito pela atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), começou a carreira na polícia, como comissário. Tal trabalho seria a inspiração para muitas criações literárias do escritor, que eternizou por meio das palavras seus companheiros do período.
Marcado por uma linguagem direta, a violência urbana e a luxúria são temas constantes em suas obras que permeiam um universo onde as pessoas de diferentes posições sociais se misturam.
Um de seus livros mais relevantes de contos é Feliz Ano Novo, que chegou a ser barrado pela Ditadura Militar. Entre os romances, o destaque fica para Agosto.
7. Adélia Prado (1935)
Natural da cidade interiorana de Divinópolis — local que vive até hoje —, Adélia Prado é um dos nomes femininos mais expoentes na literatura nacional e nasceu em 13 de dezembro de 1935.
Ligada ao Modernismo, assim como outros escritores e escritoras brasileiros que você vai conhecer em breve e que também foram lembrados neste texto, ela começou a escrever após o falecimento da mãe, em meados de 1950.
Formada também em Filosofia, Adélia conta com uma obra marcada pelas percepções acerca das minúcias do cotidiano, sendo possível notar ainda referências à fé cristã e aspectos lúdicos, seja nos poemas ou nas prosas da autora.
Entre as obras, o primeiro livro publicado da autora foi Bagagem, de 1975, mas é Poesia Reunida que concentra a alma da poeta mineira.
8. Conceição Evaristo (1946)
Também de BH, Maria da Conceição Evaristo de Brito é não só uma linguista, mas também uma escritora brasileira.
No mundo literário, é considerada uma das escritoras mais influentes do movimento pós-modernista no país, possuindo trabalhos nos gêneros da poesia, romance, conto e ensaio.
De origem humilde, Conceição cresceu na favela do Pindura Saia, uma comunidade extinta na década de 1970, situada na zona sul de Belo Horizonte. O primeiro livro viria em 2003. A obra Ponciá Vicêncio aborda temáticas como discriminação racial, de gênero e de classe.
9. Sérgio Vaz (1964)
Com pouco menos de 19 mil habitantes, a cidade de Ladainha é a terra do “poeta da periferia” Sérgio Vaz.
Ao mudar-se com a família para São Paulo aos 5 anos, foi na cidade de Taboão da Serra que ele se estabeleceu. No ano de 2000, fundou a Cooperativa Cultural da Periferia, a Cooperifa, sendo também criador do Sarau da Cooperifa – responsável por reunir ouvintes e artistas para recitar e criar poesia.
De 1988 até 2016, lançou oito livros, sendo cinco deles independentes e três pela editora Global. Seus versos tratam sobre o cotidiano na favela, a esperança por um dia melhor, a amizade, o amor e a educação.
10. Ana Martins Marques (1977)
Para fechar nossa lista com chave de ouro, mais uma mulher: Ana Martins Marques! Sabe aquela leitura que aquece o coração? Você vai encontrar isso nos poemas dessa belo-horizontina.
Mestre em Literatura pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ela trabalha como redatora e revisora na Assembleia Legislativa do estado enquanto concilia a vida como escritora. O primeiro livro lançado foi em 2009 e intitulado A Vida Submarina. O último, em 2021, Risque esta palavra saiu pela Companhia das Letras.
“E então você chegou
(5 poemas da série “Cartografias”)
como quem deixa cair
sobre um mapa
esquecido aberto sobre a mesa
um pouco de café uma gota de mel
cinzas de cigarro
preenchendo
por descuido
um qualquer lugar até então
deserto.”
Se você já conhecia algum desses escritores mineiros, parabéns! Se não, nunca é tarde para navegar no maravilhoso universo da literatura nacional. Seja em Minas Gerais ou em qualquer outro estado, grandes autores e autoras brasileiros não faltam.
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Atualizado em 2024-11-21 / Links afiliados (Affiliate links) / Imagens de Amazon Product Advertising API