Movimento que surgiu no início dos anos 60, a Educação Popular tem ganhado maior destaque, literatura e adeptos nos últimos anos. Mas o que ele significa? Quais são as suas diferenças da educação denominada tradicional? Quais são os seus objetivos? Continue no texto para descobrir essas e outras respostas, além de indicações sobre o tema.
O que é educação popular?
De forma resumida, podemos dizer que a Educação Popular é um movimento pedagógico e político tipicamente latino-americano que, no Brasil, tem na figura de Paulo Freire um de seus principais pensadores.
Segundo estudos, seu surgimento se deu fora da escola. Isso porque falar sobre ela é, também, falar sobre práxis educativa, é acreditar no poder da participação popular e na construção de um projeto político que tenha como meta uma sociedade mais justa.
Nesse sentido, vale destacar o marco do pensamento de Paulo Freire na trajetória da educação popular, uma vez que suas críticas à educação bancária ou tradicional fomentam grande parte dos debates do movimento até hoje.
Em Pedagogia do oprimido, por exemplo, o pensador aponta a forma tradicional de se educar como “um ato de depositar, em que os educandos são os depositários e o educador, o depositante”.
Assim, os princípios da educação popular rondam a busca por transformação e libertação através do conhecimento.
- Leia também: 9 livros de não ficção para ampliar seu horizonte
A educação popular pelas palavras de uma educadora
Para nos ajudar a entender com maior profundidade os conceitos e a importância da educação popular, confira agora a nossa conversa com Mariana Souza, socióloga formada pela UNICAMP, educadora e estudante de pedagogia.
Opiniões Certificadas: O que difere a educação popular da chamada escola tradicional?
Mariana Souza: Na concepção tradicional, portanto bancária, de educação, o saber é doado, transmitido; os alunos recebem um depósito do conteúdo. Diante disso, não há reflexão, não há criatividade, não há transformação e não há saber. Nesse sentido, o(a) professor(a) seria o(a) detentor(a) do saber e do conhecimento, e somente os transmitiria para o aluno, de forma hierarquizada.
Freire pensa a educação como meio de transformação. Por meio dela, o oprimido toma consciência da opressão e do opressor. Só a partir deste movimento, é possível que haja reflexão e a construção de possibilidades para uma educação realmente libertadora.
OPC: Quais os saberes valorizados pela educação popular?
Mariana Souza: Na educação popular, é realmente levado a sério o mote de “todos podem aprender e todos podem ensinar”. E o conhecimento só é de fato construído coletivamente, na troca e na partilha.
OPC: Qual é o principal objetivo da educação popular e qual o papel do educador nesse movimento?
Mariana Souza: O objetivo da educação popular é servir como instrumento acessível de emancipação, construção e multiplicação de conhecimentos, saberes e fazeres.
Já o papel de educadoras e educadores definitivamente não é o de detentor de conhecimento, mas sim de facilitador, mediador. É aquele(a) que cria as possibilidades para que os/as educandos/as dialoguem e, assim, aprendam coletivamente, exercendo sua autonomia.
OPC: Como podemos incorporar os saberes dos alunos no processo educativo?
Mariana Souza: Um dos primeiros princípios de uma educação popular e libertadora é utilizar-se da realidade do indivíduo como ponto de partida para a prática de ensino e aprendizagem. Paulo Freire, em seu famoso projeto de alfabetização de adultos em Angicos (RN), na década 60, usava como palavras geradoras elementos do cotidiano dos trabalhadores – tijolo, milho, feira, xique-xique, por exemplo. A partir do reconhecimento destas palavras e seus significados, que já faziam parte do cotidiano dos educandos, deu-se o processo de alfabetização.
Portanto, pensando em uma educação que seja realmente popular e emancipadora, devemos sempre, enquanto educadoras, observar a realidade dos/as educandos/as para pensar e criar as estratégias de facilitação e construção de conhecimentos.
OPC: Qual é o papel do cotidiano de estudantes na aprendizagem?
Mariana Souza: Abordar os conteúdos programáticos a partir do contexto de cada educanda/o é essencial para a construção de uma prática pedagógica que seja verdadeiramente acessível, popular e emancipadora. Também é imprescindível que educadoras/os tenham conhecimento do cotidiano de cada um/a, para entender diferentes realidades, facilidades e dificuldades que possam se apresentar.
Indicações para quem deseja conhecer mais sobre o movimento
Para aquelas e aqueles que desejam entender a importância da educação popular e se interessam por aprender mais sobre o movimento, separamos algumas indicações que podem auxiliar no processo de aprendizagem.
1. Quando sinto que já sei
Documentário brasileiro, Quando sinto que já sei é um projeto independente que reúne práticas educacionais inovadoras que acontecem em oito cidades do país.
Com pouco mais de 60 minutos de duração, podemos acompanhar depoimentos de pais, alunos, educadores e profissionais de outras áreas. Neles, se sobressai a necessidade de mudanças no modelo tradicional de ensino.
2. Pedagogia do oprimido, Paulo Freire
Obra fundamental para quem deseja ampliar seus conhecimentos sobre o ensino e disseminação de conhecimento. Pedagogia do oprimido é considerado um livro radical que aborda um conhecer solidário, além da luta pela desalienação e pela construção de um mundo em que seja mais fácil amar.
3. Que fazer: teoria e prática em educação popular, Paulo Freire e Adriano Nogueira
Funcionando como uma transcrição de diálogos do patrono da educação brasileira com Adriano Nogueira, este livro foi desenvolvido com o objetivo de analisar o conceito de educação popular, além de se aprofundar em questões surgidas com essa forma de se pensar o conhecimento.
- Leia também: Literatura indígena – conheça autores e obras
4. O que é educação popular, Carlos Rodrigues Brandão
Parte da coleção clássica Primeiros Passos, a obra serve como uma introdução rápida e didática sobre o movimento, explorando as diferenças entre a educação convencional e a popular.
No products found.
5. História da educação popular no Brasil, Vanilda P. Paiva
Publicado em 1973 e referência no assunto, foi o primeiro estudo que divulgou uma ampla visão histórica sobre a educação de adultos e a educação popular no Brasil. Suas edições mais recentes contam com anexos que trazem dados globais da segunda metade do século XX, além de um ensaio apresentado no Encontro latino-americano sobre educação de jovens e adultos trabalhadores de 1993.
E você, conhece outras iniciativas, pensadores e obras que dissertem sobre educação popular? Indique para a gente nos comentários!
Atualizado em 2024-11-21 / Links afiliados (Affiliate links) / Imagens de Amazon Product Advertising API