Você sabia que no dia 5 de novembro comemora-se o Dia Nacional da Língua Portuguesa? A data foi estipulada a partir do decreto de lei nº 11.310, de 12 de junho de 2006, e foi escolhida para homenagear um renomado escritor e político brasileiro que, além de tudo, também era um estudioso do nosso idioma: Ruy Barbosa.
O fato é que a nossa língua é rica em pluralidades que vão se transformando e desvendando “do oiapoque ao chuí”, como dizem. E no vasto catálogo literário brasileiro, por exemplo, não faltam escritores que fazem ou fizeram dela o instrumento principal. Você pode conhecer agora oito livros de língua portuguesa que são a prova viva disso. É só seguir com a leitura!
1. O Guarani – José de Alencar
Classificado como romance histórico, ou seja, ambientado em outra época, em O Guarani, o escritor José de Alencar nos apresenta Peri, um índio goitacá apaixonado por Cecília De Mariz, a Ceci, filha de um nobre.
A obra faz parte da fase indianista do modernismo brasileiro cuja qual buscava valorizar a figura do indígena e transformá-lo em um espécie de herói nacional. Nela, o autor buscou exaltar as belezas naturais do Brasil e abordar a questão da miscigenação entre o índio e o branco.
Em relação à linguagem utilizada, ela é predominantemente barroca e romântica, mas é notória por trazer um tom poético às falas do índio, muitas vezes tratado como “selvagem”, que também são melódicas e repletas de metáforas.
2. Dom Casmurro – Machado de Assis
Dom Casmurro é um dos grandes clássicos da literatura nacional. Escrito há mais de 130 anos, ele não poderia ficar de fora desta lista, já que é a obra responsável por desenvolver um dos maiores questionamentos do universo literário: afinal, ela traiu ou não? (entendedores entenderão!).
Na história, contada em primeira pessoa, acompanhamos o já idoso Bento Santiago, ou simplesmente Bentinho, que deseja “atar as duas pontas da vida”, ou seja, falar sobre a própria mocidade até o período em que está escrevendo o livro.
Para isso, ele vai relembrar e compartilhar com o leitor da juventude, do tempo em que passou no seminário, mas especialmente da paixão que sentia por Capitu — foco central da trama.
Se você deseja conhecer expressões que foram extremamente populares no Brasil de outros séculos, como “sai do pé de mim”, é uma excelente opção!
Sem falar que os capítulos curtos são repletos de ferramentas literárias, como o uso da intertextualidade (criação de um texto a partir de outro), da retórica (o personagem é advogado), da metáfora e de muita ironia. Tudo isso por meio de diálogos informais e de uma narrativa não-linear!
3. Antologia Poética – Olavo Bilac
Seguindo os preceitos da escola literária do parnasianismo, ou seja, de uma escrita marcada por uma linguagem mais rigorosa, culta, elaborada, formal e com um vocabulário hermético, além de apresentar várias referências à cultura greco-romana, Olavo Bilac nasceu no Rio de Janeiro em 1865 e viveu na cidade até os últimos dias de sua vida, em 1918.
Foi um dos autores mais lidos do período, ganhando até mesmo o título de “o Príncipe dos Poetas Brasileiros” em um concurso promovido pela revista Fon-fon.
A primeira obra do escritor que colaborou com a produção do hino nacional brasileiro foi publicada em 1888 e intitulada Poesias.
A metalinguagem também era um dos recursos utilizados constantemente por ele, como é possível conferir no poema Profissão de fé. Além disso, tinha um lado lírico, como é possível notar em Via Láctea, um dos escritos mais célebres de Bilac.
Via Láctea
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…
E conversamos toda a noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”
E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”
4. Macunaíma – Mário de Andrade
Saindo de uma linguagem culta e retornando à indigena, só que dessa vez muito mais exacerbada, Mário de Andrade bebeu de todas as fontes linguísticas e estilísticas possíveis para construir Macunaíma, publicado em 1928.
Por meio de mitos e anedotas, do popular e do erudito, o objetivo principal do autor não era só de contar a história do personagem que dá nome à obra e que tem como característica principal a preguiça, considerado “o herói sem nenhum caráter”, mas de deixar para trás a influência portuguesa e mostrar ao leitor a riqueza oral de nossa cultura que possui uma formação diversa.
Talvez, você precise de algumas pesquisas no Google para entender determinadas expressões ou simplesmente do bom e velho dicionário, mas boas risadas, um acréscimo no seu vocabulário e boas reflexões estão garantidas, tenha certeza!
5. Grande Sertão: Veredas – Guimarães Rosa
O que há de universal em Guimarães Rosa, há também de regional, característica extremamente notável em toda a bibliografia do escritor, inclusive na obra Grande Sertão: Veredas.
Escrito em 1956, o livro reúne o uso da linguagem regional e popular, mas vai além e apresenta ao leitor um vocabulário próprio, assim como diversas construções sintáticas exclusivas que só uma mente múltipla como a de Rosa seria capaz de criar.
Narrado pelo jagunço Riobaldo, que durante três dias compartilha com um ouvinte as aventuras que ele teve pelo sertão, nas mais de 500 páginas da obra, você vai poder se deliciar com um lirismo particular e arrebatador.
“O senhor mire, veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam, verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra montão.”
6. Toda Poesia – Paulo Leminski
Muito mais do que saber escolher as palavras, é preciso ter a compreensão de onde colocá-las, nem que seja em um poema de apenas três versos, como um haicai. E a maestria do poeta curitibano Paulo Leminski para isso era inquestionável!
“amar é um elo
entre o azul
e o amarelo.”
O que é um haicai?
De origem japonesa, o haicai é um poema de forma fixa. Ele possui três versos: o primeiro e o terceiro são redondilhas menores e contêm cinco sílabas; enquanto o segundo é uma redondilha maior, contendo sete sílabas.
Além de se aventurar na escrita dos poeminhas ao estilo oriental, ele também foi um dos grandes protagonistas da poesia concretista, ao lado dos irmãos Campos.
O gênero é marcado pela inovação semântica e no léxico. A criação de ideogramas, polissemias, trocadilhos, neologismos, estrangeirismos e símbolos se faz bem presente nos escritos. Há ainda as sobreposições e a desfragmentação da palavra, deslocando ela de sufixos e prefixos. Os jogos sonoros e o nonsense também se fazem bem presentes.
Leminski foi autor de 19 livros de poesia, 5 de prosa, 11 biografias e 2 livros infanto-juvenis, além de trabalhar com traduções, textos jornalísticos e composições musicais (ele era um grande parceiro de Arnaldo Antunes e teve grande influência nas letras de Caetano Veloso). Não por acaso, é considerado um poeta multifacetado.
Esses são apenas alguns exemplos de livros de língua portuguesa para se ter na estante e, sempre que possível, lembrar-se de quão importante e rico é o nosso idioma – mas eles não são os únicos.
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