“Somos tão joveeeeens, tão joveeeeens” ????. Se você viveu os anos 1980 corretamente, com certeza se lembra dessa música e da Legião Urbana, uma das bandas brasileiras mais emblemáticas do período. Hoje, vamos te apresentar os sons de outros grupos que também marcaram o rock nacional nos anos 80 e 90.
No livro Brock: o rock brasileiro dos anos 80, o jornalista Arthur Dapieve comenta que “o rock penou quase três décadas até conseguir, de fato e de direito, a cidadania brasileira”. Isso porque a década de 80 é considerada a de ouro para o gênero no Brasil.
Diversas bandas, influenciadas por grupos internacionais e até pela jovem-guarda, se estabeleceram nesse período e também na década de 90. Você vai conhecer um pouco mais sobre algumas delas, especificamente 10 bandas de rock nacional anos 80 e 90, agora!
1. Matanza
A primeira banda da lista surgiu no Rio de Janeiro, em 1996, e chegou ao fim 22 anos depois, em 2018, e é resultado de muito Johnny Cash e referências escocesas.
O primeiro CD foi lançado apenas em 2001, intitulado Santa Madre Cassino. Em 2005, os meninos fizeram um fato histórico, sendo responsáveis pelo primeiro álbum em DualDisc de um artista brasileiro em solo nacional, o A Arte do Insulto.
Em nota, a banda divulgou que o término aconteceu por “[…] questões pessoais que precisam ser atendidas, possibilidades profissionais que precisam ser contempladas e necessidades artísticas que […] levam a caminhos distintos”.
Durante sua existência, a Matanza contou com a participação de diversos músicos, mas apenas dois deles se mantiveram fiéis até o fim: o vocalista, Jimmy London, e o guitarrista, Donida.
No começo de 2019, alguns ex-integrantes resolveram se unir e fizeram uma nova versão da banda, a Matanza Inc, sem Jimmy London nos vocais, que foram passados para Vital Cavalcante.
2. Barão Vermelho
O sonho de ter a própria banda de rock n’ roll brotou no coração do baterista Guto Goffi e do tecladista Maurício Barro após assistirem a um show do Queen no estádio do Morumbi, em São Paulo.
O nome escolhido foi Barão Vermelho, o codinome do aviador alemão Manfred von Richthofen, um dos principais inimigos dos Aliados durante a Primeira Guerra Mundial.
Não demorou muito para que Dé (baixo) e Frejat (guitarra) se juntassem aos dois. Sem vocalista, por indicação de uma amiga, a banda conheceu Léo Guanabara, o Léo Jaime.
Com um timbre de voz suave, Léo não estava muito alinhado com a proposta do grupo. Compreendeu a situação e indicou um tal de Cazuza.
Em 1982, o primeiro álbum do quinteto estava lançado: Barão Vermelho. Gravado em apenas quatro dias, o disco contou com hits que são lembrados até hoje dentre os clássicos do rock nacional anos 80 e 90, como Todo Amor Que Houver Nessa Vida, Ponto Fraco e Down Em Mim.
Três anos depois, Cazuza deixou o grupo para seguir carreira solo, e o vocal passou a ser integralmente de Frejat.
O sucesso do grupo seria retomado apenas em 1988, com o lançamento do álbum Carnaval. A música Pense e Dance foi sucesso na novela Vale Tudo, e o disco estourou nas rádios do país.
Em janeiro de 2017, após diversas mudanças entre os integrantes nos anos anteriores, a banda voltou aos palcos. Agora, quem está no controle do microfone principal do grupo é Rodrigo Suricato.
3. Cachorro Grande
No Rio Grande do Sul, também existe rock n’ roll, inclusive independente, e a Cachorro Grande é prova viva disso.
Formada quase nos anos 2000, em 1999, a maior parte da história da banda gira em torno de Beto Bruno (vocal), Marcelo Gross (guitarra), Rodolfo Krieger (baixo), Pedro Pelotas (teclado) e Gabriel Azambuja (bateria).
Em 2016, dois anos depois do lançamento do álbum Costa do Marfim, o grupo abriu um show dos Rollings Stones no Estádio Beira Rio, em Porto Alegre – o evento foi considerado um dos mais importantes na carreira dos integrantes. Sem falar que eles compartilharam o mesmo palco que Oasis, Scorpions, Aerosmith e Rita Lee.
Já em 2018, foi anunciada a saída de Marcelo Gross e a entrada de Gustavo X. No mesmo ano, a banda comunicou uma turnê de despedida a fim de celebrar “[…] a vida do grupo gaúcho e não a sua parada”.
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4. Charlie Brown Jr.
“Eu vim de Santos, sou Charlie Brown!”. Formada em 1992, a banda Charlie Brown Jr. é um daqueles sucessos atemporais. Com pegadas de rock alternativo, ska, reggae e rap, é um dos sons que tocaram – e continuam tocando – nos ouvidos de muitos jovens.
As influências musicais de Chorão (vocal), Champignon (baixo), Renato Pelado (bateria), Marcão (guitarra) e Thiago Castanho (guitarra) eram claras: Raimundos, O Rappa, Nação Zumbi, Rage Against The Machine, Blink 182 e Planet Hemp.
O primeiro álbum, Transpiração Contínua Prolongada, que saiu apenas em 1997 e vendeu 500 mil cópias, já trazia hits que são cantados até hoje, como Proibida pra Mim (Grazon), Tudo que Ela Gosta de Escutar e Quinta-feira.
Um fato marcante na história do grupo é que, de 1999 a 2006, a música Te Levar, lançada no segundo álbum, Preço Curto… Prazo Longo, foi tema de Malhação, seriado da Rede Globo. Foi um boom.
Os shows ao vivo só chegaram ao fim anos depois, em 2013, após o falecimento do vocalista Chorão.
De lá para cá, alguns festivais, como o Tâmo Aí Na Atividade, musicais e até um álbum póstumo, La Família 013, foram lançados. A banda segue, anualmente, lançando faixas póstumas, livros e edições comemorativas dos álbuns.
5. Engenheiros do Hawaii
Amada por muitos, odiada por tantos outros, outra banda que marcou o rock nacional anos 80 e 90 foi um grupo gaúcho que tem no vasto repertório canções de cunho político, mas também baladas românticas: a Engenheiros do Hawaii.
Tudo começou na Faculdade de Arquitetura da UFRGS de Porto Alegre, onde quatro estudantes, Humberto Gessinger (vocal e baixo), Carlos Stein (guitarra), Marcelo Pitz (baixo) e Carlos Maltz (bateria), resolveram fazer um show em protesto a uma paralisação das aulas.
A justificativa para o nome da banda? Zoar a galera da Engenharia, curso rival, e suas bermudas de surfista.
Em 1986, mas sem a presença de Carlos Stein, sai o primeiro álbum do grupo: Longe Demais das Capitais. Nas faixas, é evidente a influência de The Police e Os Paralamas do Sucesso.
Foi o single Toda Forma Poder que apresentou a banda aos brasileiros, mas é o segundo álbum, A Revolta dos Dândis, repleto de composições existencialistas (Gessinger é um grande fã dos filósofos Albert Camus e Jean-Paul Sartre), que realmente merece destaque.
Dentre todos os integrantes que já passaram pela banda, Humberto Gessinger foi o único que se manteve fiel até a última turnê, realizada em 2008.
O fato é que ouvir Engenheiros do Hawaii é sempre passear em um mundo de genialidade e muita sonoridade.
6. Os Paralamas do Sucesso
Se você fica impressionado com a rotação de integrantes de uma banda, Os Paralamas do Sucesso vai te tranquilizar. Desde 1982, a formação é a mesma: Herbert Vianna (guitarra e vocal), Bi Ribeiro (baixo) e João Barone (bateria).
A banda surgiu de uma união entre amigos que viviam na capital brasileira, Brasília, em 1981. No ano seguinte, a então nomeada As Cadeirinhas da Vovó passaria a se chamar Os Paralamas do Sucesso – só que no Rio de Janeiro.
A demo de “Vital e Sua Moto”, em referência a Vital Dias, um baterista anterior à chegada de João Barone, foi enviada para a Fluminense FM. No verão do ano seguinte, a música era uma das mais tocadas na rádio.
Não demorou muito para que o trio fosse notado. Após abrir um show do Lulu Santos, eles assinaram com a EMI e lançaram o primeiro disco: Cinema Mudo. Contudo, é o segundo álbum, intitulado O Passo do Lui, que traz hits que demonstram a atemporalidade do grupo, expressa em canções como Óculos, Me Liga, Meu Erro, Romance Ideal e Ska.
Por causa de O Passo do Lui, Os Paralamas do Sucesso foram convidados a tocar no Rock in Rio de 1985.
De lá para cá, treze álbuns foram lançados. O último, Sinais do Sim, saiu em agosto de 2017 pela Universal Music e é um dos maiores sucessos não só do rock nacional anos 80 e 90, mas da atualidade.
A banda conta ainda com três músicos de apoio em suas turnês: João Fera (teclado), Monteiro Jr. (saxofone) e Bidu Cordeiro (trombone).
7. CPM 22
Assim como o Charlie Brown Jr., o CPM 22 é outro grupo de rock nacional que marcou juventudes. Ainda em atividade, a banda começou em 1995, em Barueri.
Contudo, naquele ano, o título do grupo era apenas CPM. Até que em 1998, após abrirem uma caixa postal de número 1022, o nome da banda foi alterado para Caixa Postal Mil e Vinte e Dois. Não deu outra, na segunda demo estava estampado “CPM 22”.
O primeiro álbum oficial e independente foi lançado em 2000. Intitulado A Alguns Quilômetros de Lugar Nenhum, o disco vendeu 4 mil cópias em dois meses.
Mas foi o terceiro álbum, Chegou a Hora de Recomeçar, com hits como Desconfio, Dias Atrás e Não Sei Viver sem Ter Você, que tornou a banda ainda mais popular. A faixa Atordoado esteve presente na trilha sonora da novela “Da Cor do Pecado”, produzida pela Rede Globo.
Em pouco mais de duas décadas de trajetória, a banda possui um Grammy Latino de melhor álbum de rock brasileiro; um disco de ouro pelo sucesso do álbum CPM 22, após a venda de 100 mil cópias; e um Rock in Rio na conta.
A formação atual conta com Badauí (vocal), Luciano (guitarra/backing vocal), Phil (guitarra/backing-vocal), Ali Zaher (baixo) e, a partir de 2020, com Daniel “Zoio” Siqueira (baterista), que veio substituir o ex-integrante Japinha, desligado após polêmicas.
8. Skank
Eis mais uma banda cujos integrantes são os mesmos desde o começo! Com mais de 6,6 milhões de discos vendidos, entre CDs e DVDs, o Skank nasceu na capital mineira, Belo Horizonte, no ano de 1990.
O segundo disco da banda, Calango, lançado em 1994 e com músicas como Te Ver e Jackie Tequila, vendeu mais de 1 milhão de cópias e apresentou o Skank para o mundo. França, Argentina, Portugal, Espanha, Alemanha, Estados Unidos e muitos outros países tiveram o prazer de conhecer a originalidade das músicas do grupo.
Até o prazer de mixar um álbum no Abbey Road, estúdio londrino onde os Beatles produziram o disco de mesmo nome, eles tiveram. Com o nome de Siderado, o CD é uma amostra do que seria o Skank de lá até ontem.
Em todos os álbuns, hits marcam presença. É clara a referência de outros grupos, como The Police, Ira!, Clube da Esquina, Jorge Ben Jor, Gilberto Gil e até Os Paralamas do Sucesso.
A união de Samuel Rosa (guitarra e voz), Henrique Portugal (teclados), Lelo Zaneti (baixo) e Haroldo Ferretti (bateria) é um sucesso inquestionável. Contudo, em 2019, o Skank anunciou uma pausa e uma turnê de despedida – para a tristeza de muitos fãs.
O último e nono álbum lançado pela banda foi o disco Velocia, com seis composições de Nando Reis.
9. Titãs
Nove pessoas em uma banda só é possível? E seis vocalistas? Para o Titãs, sim!
Diretamente da cidade da garoa, a banda começou em 1982. Arnaldo Antunes, Branco Mello e Ciro Pessoa cantavam e eram backing vocals. Sérgio Britto, Nando Reis e Paulo Miklos também cantavam, mas revezavam no baixo e nos teclados. Os outros três integrantes eram André Jung, baterista, Tony Belloto na guitarra solo e Marcelo Fromer na guitarra rítmica.
Em uma entrevista à Revista Trip, ao ser questionado sobre a dinâmica do grupo, o ex-integrante, Paulo Miklos, contou que:
“A gente já tinha claro que o barato era a coisa criativa, aquilo que a gente podia criar juntos, e defender essa criação sem preconceitos. A gente tinha toda essa carga de informação, adorava o Arrigo [Barnabé], o Itamar [Assumpção], essa vanguarda paulista. Eu queria fazer umas frases dodecafônicas! A gente tinha uma proximidade também com a poesia concreta do Augusto [de Campos], o Arnaldo [Antunes] é um cara que estudou as coisas. A gente tinha esse conhecimento profundo da música popular brasileira trombada com toda música internacional. A gente era new wave, mas curtia Alceu Valença. (…) A gente sempre gostou do The Clash, por exemplo, que é uma banda que introduziu a música caribenha, o reggae, misturados com um punk rock mais encardido, mais sectário. (…) A gente era uma coisa caleidoscópica.”
Paulo Miklos para a Revista Trip
Não demorou muito para que Jung saísse da banda; foi então que Charles Gavin chegou para ficar.
Só em 1992 a banda começou a perder outros membros: Arnaldo Antunes e Nando Reis resolveram seguir carreira solo; em 2001, Fromer faleceu em um acidente; em 2010 foi a hora de Charles Gavin anunciar a saída do grupo; por fim, em 2016, Paulo Miklos oficializou o desligamento.
O reconhecimento viria apenas após o lançamento do terceiro álbum. Produzido por Liminha, uma referência na produção musical, Cabeça Dinossauro foi lançado em 1986 com uma estética totalmente diferente das obras anteriores. Contudo, o sucesso em vendas ficou por conta do álbum gravado no projeto Acústico MTV, em comemoração aos 15 anos da banda – foram vendidas 1,7 milhão de cópias.
Cabeça Dinossauro se tornou uma referência musical do rock nacional anos 80 e 90, ainda que tenha demorado um pouco para conquistar os fãs. Cerca de 30 anos depois, o álbum foi relançado e remasterizado como álbum duplo – é imperdível!
Atualmente, a banda segue na estrada, mas com apenas três integrantes oficiais, sendo eles Branco Mello (vocal), Sérgio Britto (vocal e teclado) e Tony Bellotto (guitarra e violão), além de dois músicos de apoio, Mario Fabre (bateria) e Beto Lee (guitarra e vocal de apoio).
10. Velhas Virgens
A última indicação também é paulista. Com composições irreverentes, normalmente sobre assuntos sexuais e álcool, sem deixar o bom humor de lado, a Velhas Virgens lançou o primeiro álbum, Foi Bom Pra Você?, em 1994.
Já nesse primeiro trabalho é visível uma característica que surgiu na banda a partir de 1990: as letras escrachadas falando basicamente de mulheres, cerveja e Rock n’ Roll.
Hoje em dia, a formação atual da banda conta com Paulão de Carvalho (vocal, gaita e sax), Carlos “Tuca Pés-de-Arara” Paiva (baixo), Alexandre “Cavalo” Dias (guitarra e backing vocal), Filipe Cirilo (guitarra), Simon Brown (bateria) e Juliana “Juju” Kosso (vocal e performer).
Quer descobrir qual dessas bandas de rock nacional anos 80 e 90 é mais a sua cara? Não se esqueça de escutar os álbuns indicados de cada uma. Vida longa ao Rock n’ Roll, especialmente o nacional. Até a próxima!