Imagem de discos de vinil. Uma mão está erguendo um deles.

Vinil e MPB: 10 discos para apreciar a música brasileira!

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A Música Popular Brasileira (MPB) conta com grandes nomes que fizeram e fazem sucesso não só em terras nacionais, mas também em outros países, responsáveis por propagar a nossa cultura aos quatro cantos do mundo.

Se você é apaixonado por música, especialmente por vinil e MPB, abaixo você confere 10 discos do gênero que são referência e merecem ser apreciados com toda dedicação devido à genialidade de seus criadores.

Para conferir cada um dos discos — que foram organizados nesta lista por data de lançamento, sem clubismos, eu juro —, é só seguir com a leitura!

1. Gal Costa – Gal Costa (1969)

Para abrir com chave de ouro esta lista, nada melhor do que começar pelo álbum que lançou ao Brasil uma das maiores divas da MPB: Gal Costa — ou simplesmente “Gal”.

Carregando o nome da própria cantora baiana, ele é o primeiro disco solo dela depois de lançar Domingo, em companhia de outro ícone, o músico Caetano Veloso. 

Antes, houve ainda o revolucionário Tropicália ou Panis et Circencis, um marco do movimento tropicalista também assinado por ela e Caetano, além de Gilberto Gil, Nara Leão, Os Mutantes e Tom Zé, juntamente com os poetas Capinam e Torquato Neto e do maestro Rogério Duprat.

Considerado o disco que fechou a Tropicália, em Gal Costa vemos uma intérprete deixando para trás um ar bossa-novista, nos surpreendendo com uma mulher moderna, ainda que inspirada na jovem-guarda, no rock, no blues e no soul.

No lado A, Gal dá voz à composição “Não Identificado”, escrita por Caetano Veloso. Já no lado B, você encontra duas músicas extremamente populares e marcantes na voz dela: “Baby” e “Divino, Maravilhoso”. 

2. Tim Maia – Tim Maia (1970)

Outra pessoa que buscou inspiração no blues, no funk e no soul, e depositou tudo isso e mais um pouco já no álbum de estreia, foi Tim Maia!

Depois de experiências frustrantes no exterior e de retornar ao Brasil, as gravações do primeiro disco começaram em 1969 sob a produção de Arnaldo Saccomani. Mas o lançamento foi realizado no ano seguinte, em 1970.

Tim Maia no Teatro Opinião, em 20 de janeiro de 1972.
Tim Maia no Teatro Opinião, em 20 de janeiro de 1972. Foto: Arquivo Nacional/Correio da Manhã.

Perpassando diversos ritmos, como nas faixas “Coroné Antônio Bento” e “Padre Cícero”, que une gêneros populares nas comunidades afro-americanas dos Estados Unidos ao baião, caminhando pelo funk combinado com metais na trilha de “Jurema”, até as composições assinadas por Cassiano, como “Eu Amo Você”, “Você Fingiu” e “Primavera (Vai Chuva)”, esse é o tipo de álbum que, dos dois lados, música boa não falta!

Também é nesse disco que Tim lançou “Azul da Cor do Mar”, composta enquanto estava fora do país — um período marcado por dificuldades financeiras.

A vendagem do álbum ultrapassou 200 mil cópias, número suficiente para conceder ao cantor um disco de ouro. 

3. Acabou Chorare – Novos Baianos (1972) 

A MPB é marcada por experimentações, e Acabou Chorare é outro exemplo claro e audível disso — o segundo disco de estúdio dos Novos Baianos lançado pela Som Livre tem samba, choro, bossa nova, baião e rock.

Você vai encontrar desde o estilo das guitarras de Jimi Hendrix ao violão baixinho de João Gilberto (alerta de spoiler: ele também está nesta lista!). Inclusive, foi o pai da bossa nova o mentor do álbum durante toda a produção, influenciando especialmente a faixa homônima, que tem como proposta criticar a bad trip que dominava a MPB. 

A composição “Acabou Chorare” foi escrita pensando na filha de João Gilberto, Bebel Gilberto; à época, uma bebê. Você vai entender ouvindo a música! Agora, as faixas “Preta Pretinha”, “Besta é Tu” e “Tinindo Trincando” dominaram todas as rádios do país naquele importante ano de 1972 para a história da música nacional.

Gracejos — ou melhor, jocosidades — não faltam em Acabou Chorare. Não por acaso, o filho de Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor, Luiz Galvão, Baby Consuelo e Moraes Moreira foi eleito em 2007 pela revista Rolling Stone o número 1 dos 100 maiores discos da música brasileira.

“Acabou chorare, ficou tudo lindo
De manhã cedinho, tudo cá cá cá, na fé fé fé
No bu bu li li, no bu bu li lindo
No bu bu bolindo
No bu bu bolindo
No bu bu bolindo
Talvez pelo buraquinho, invadiu-me a casa, me acordou na cama
Tomou o meu coração e sentou na minha mão
Abelha, abelhinha…
Acabou chorare, faz zunzum pra eu ver, faz zunzum pra mim…”

Novos Baianos – Acabou Chorare

4. Clube da Esquina – Milton Nascimento e Lô Borges (1972)

Para abrilhantar ainda mais o ano de 1972, os mineiros Milton Nascimento e Lô Borges foram responsáveis por creditar e dividir os vocais em Clube da Esquina, que fica lado a lado com Acabou Chorare em nível de importância. 

No entanto, o disco foi uma reunião que contou com os dons de diversos outros músicos brasileiros, como Beto Guedes, Tavito, Gonzaguinha e Toninho Horta. 

Em cada uma das 21 faixas as formações se alternam — sim, este é um álbum duplo, ou seja, dois discos com lado A, B, C e D. Na faixa que abre o lado A, por exemplo, intitulada “Tudo O Que Você Podia Ser”, Milton faz o vocal; Lô Borges, o violão; Beto Guedes, o baixo elétrico; Tavito, o violão de 12 cordas, e assim por diante…

Contudo, diferentemente da Tropicália, aqui a fonte foi os ritmos moçambicanos para além do samba, assim como as experiências latino-americanas. Nas composições, as metáforas ganham destaque, especialmente considerando a situação política do país no período, acorrentado pela ditadura militar, influenciando totalmente a produção musical do grupo. 

De Belo Horizonte para o mundo, Clube da Esquina!

5. A Tábua de Esmeralda – Jorge Ben (1974)

Considerado um dos principais álbuns da carreira de Jorge Ben Jor, o Jorge Ben, A Tábua de Esmeralda é o 11º álbum de estúdio do cantor, que mistura rock n’ roll, samba, samba rock, bossa nova, jazz, maracatu, funk, ska e até mesmo hip hop.

As faixas do LP lançado em 1974 deram início à fase chamada de “alquimia musical”, com melodias nem um pouco previsíveis e mágicas, esotéricas! 

A notoriedade do disco fica por conta também do uso intensivo do violão, que seria deixado por questões de aspectos técnicos dois anos depois. 

6. Elis & Tom – Elis Regina e Tom Jobim (1974)

Melhor do que um grande músico sozinho, só dois grandes músicos juntos, concorda? Se sim, saiba que, neste álbum, Elis Regina e Tom Jobim se uniram com um único propósito: encantar ainda mais aqueles que já os admiravam.

Em pouco menos de um mês, a voz da Pimentinha, como era conhecida, e as melodias de Tom se uniram em perfeita harmonia para resultar nesse disco que — conta-se, é claro — teria sido o presente solicitado por Elis à gravadora Philips ao completar 10 anos de contrato.

A parceria saiu mais de uma década depois da bossa nova já ter conquistado o mundo inteiro, sendo que as canções que mais se aproximam do gênero e estão presentes no LP são “Só Tinha de Ser Com Você”, “Triste”, “Brigas, Nunca Mais” e “Fotografia”.

Agora, um clássico que abre o disco e você provavelmente conhece é “Águas de Março”, que, apesar de ter sido gravada diversas vezes anteriormente — inclusive pela própria Elis, mas sozinha —, a versão do disco dela com Tom foi uma unanimidade.

Um álbum para se apaixonar e celebrar a bossa nova e a música popular brasileira!

7. Refazenda – GIlberto GIl (1975)

Ao lado de Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia, outro nome de sucesso é Gilberto Gil, responsável por nos agraciar com 37 minutos e 28 segundos de pura simplicidade e riqueza em Refazenda, cuja inspiração adveio dos ritmos nordestinos, como o baião.

Além disso, há também uma clara influência do movimento hippie, já que o compositor aborda temas ligados à aproximação com a natureza. Ah, e ainda tem quebra de paradigmas: em “Pai e Mãe”, o autor fala abertamente sobre “beijar outros homens”… uma canção emocionante, que vale a pena ouvir atenciosamente!

O sucesso do álbum foi tanto que, nos anos seguintes, Gil lançou a chamada “Trilogia Re”, que conta também com os discos Refavela (1977) e Realce (1979), além do Refestança, gravado ao vivo com a cantora Rita Lee.

8. Alucinação – Belchior (1976)

Você pode até pensar que não conhece Belchior, mas se já é um fã da MPB, com certeza já viu Elis Regina interpretando um clássico chamado “Como Nossos Pais”. Pois bem, a composição é de um dos bigodudos mais queridos e misteriosos do Brasil, o cearense Antonio Carlos Belchior.

Em Alucinação, a começar pela capa do álbum, nela está estampada uma foto do próprio cantor registrada pelo fotógrafo Januário Garcia, transformada a partir das técnicas da solarização, na qual se invertem os valores tonais de algumas áreas da imagem, resultando em um jogo de luzes e cores.

Quanto à consagração de Belchior, ela é dada por composições extensas que chegaram a ser comparadas ao estilo de Bob Dylan, como “Apenas um Rapaz Latino-Americano”, “Velha Roupa Colorida”, além daquela gravada por Elis — o hino de uma geração.

Em apenas um mês, o álbum chegou a vender 30 mil cópias, alcançando a marca de mais de 500 mil. 

Sem dúvidas, um disco fundamental para refletir sobre o passado e continuar a caminhar com passos de esperança até o futuro.

“Você não sente nem vê
Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança em breve vai acontecer
E o que há algum tempo era jovem e novo, hoje é antigo
E precisamos todos rejuvenescer

[…]

No presente, a mente, o corpo é diferente
E o passado é uma roupa que não nos serve mais.”

Belchior – Velha Roupa Colorida

9. Cartola II – Cartola (1976)

A lista está quase chegando ao fim, e outra pessoa que não poderia ficar de fora dela é o genial Cartola.

O álbum Cartola II é considerado pela crítica o melhor disco do sambista que, aos 68 anos, lá em 1976, atingiu o reconhecimento merecido do público graças às suas composições emocionantes.

Se você quiser sentir os olhos marejados, no lado A do álbum “O Mundo é Um Moinho” dá conta do recado, assim como “Preciso Me Encontrar”. Já no lado B, o clássico “As Rosas Não Falam”, um presente à amada Dona Zica, companheira de Cartola que aparece ao lado do músico na fotografia da capa, vai te acalentar.

10. Amoroso – João Gilberto (1977)

Você já leu o nome João Gilberto nas outras sugestões de vinil de MPB acima e talvez tenha percebido que, sim, esse é um personagem extremamente importante para a música brasileira.

Falecido em 6 de julho de 2019, o cantor, compositor e violonista brasileiro fez uma verdadeira revolução quando criou uma nova batida de violão para tocar samba. Eis a origem da bossa nova. 

Com um jeitinho suave de cantar, porém moderno, ele foi responsável por divulgar o nosso português em países da Europa, nos Estados Unidos e no Japão, em um período em que a beatlemania era uma febre.

Em 1977, Amoroso foi indicado ao Grammy na categoria Melhor Performance Vocal de Jazz. Com arranjos de Claus Ogerman, esse álbum se tornou um clássico, fazendo com que João, já com uma maturidade musical inquestionável, voltasse às paradas de sucesso do Brasil.

A capa do álbum Amoroso, de João Gilberto.
A capa do álbum Amoroso foi pintada por Geoffrey Holder, multiartista de Trinidad e Tobago. Foto: Last.Fm/Reprodução.

Quanto às canções, o destaque fica para a música que abre o lado A, “‘S Wonderful”, composta pelos irmãos Ira e George Gershwin para o musical Funny Face, em 1927. 

Com um balanço de bossa nova, ela acabou se tornando um sambinha em inglês. No lado B, João interpreta o maestro Tom Jobim em todas as faixas. Vale a pena navegar em “Wave”!

Selecionar apenas 10 álbuns não foi fácil, mas é importante ressaltar que, apesar desse escalado retorno do vinil que podemos acompanhar, muitos outros discos renomados ficaram de fora desta lista, pois ainda não foram relançados no formato. Estamos no aguardo!

No entanto, tenha certeza que você não vai se decepcionar com nenhum dos títulos citados aqui. Pelo contrário, pode até descobrir um novo álbum preferido para tocar sempre na sua vitrola!

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